Fotos e texto: Rhoselly Xavier
Abacaxi e Artesanato Frutos da Terra
Miranorte é uma cidade com muitas potencialidades e, no que concerne à produção artística, tem espaços próprios, (ainda que muitas vezes desconhecidos), tanto para a confecção autônoma de materiais artísticos quanto para a exposição e venda dos mesmos.
Tais espaços variam entre os mais simples e improvisados àqueles um pouco mais elaborados, mais tradicionais.
Conheçamos um desses humildes templos da arte e cultura miranortense a partir das informações a seguir, que podem ser pessoalmente constatadas por quem assim o desejar.
Um espaço de comercialização
Um
misto de barraca de abacaxi, galeria de arte e lanchonete, a loja em questão já se tornou um ponto
de parada para muitos transeuntes da BR 153 que, volta e meia, passam por
Miranorte rumo à capital, Palmas, ou rumo a outros estados.
Os produtos
De
acordo com Cristina Silva Barros e Michelle Correia de Oliveira, filhas dos
proprietários do estabelecimento, são comercializadas peças de Valadares (MG); Belém
e Castanhal do Pará; bijuterias confeccionadas com ametistas,
vindas do Rio Grande do Sul; tapetes de Santa Catarina; bonecas do Rio Grande
do Norte e peças em capim dourado produzidas aqui no Tocantins: no Jalapão e, também, em
Tocantínia, vindas diretamete das tribos indígenas da região, os povos Xerente.
Tudo
na loja tem uma história particular. As bijuterias produzidas com ametistas e
outras pedrarias, por exemplo, são uma espécie de herança cultural já que o Sr.
Percival Correia de Barros, proprietário, é filho de garimpeiro e trabalhou boa
parte da vida, desde a adolescência, no garimpo. Foram mais de quinze anos
convivendo com o brilho, formas e cores dessas pedras magníficas e, de alguma
forma, o proprietário da loja compartilha tal experiência com seus clientes,
através das peças que vende.
Além
desses produtos, são comercializados abacaxis produzidos nos arredores da
cidade; óleo de coco, vindo do Maranhão; doces de leite em compota produzidos
em Minas Gerais; Goiabadas Cascão, diretamente de São Paulo, onde são
tradicionalmente produzidas desde 1966, contendo apenas 30% de açúcar sendo, no
restante, compostas pela matéria prima, a polpa de goiaba; e móveis artesanais
confeccionados pelo Sr. Percival auxiliado por Giuseppe, vulgo, Dé.
No caso dos móveis que o Sr. Percival e o Dé
confeccionam, a madeira é reaproveitada e, em algumas vezes, conseguida
mediante retirada de entulhos ou através de doação uma vez que seria,
normalmente, queimada ou descartada por seus donos. Essa forma de aquisição e
aproveitamento da madeira é um grande exemplo de sustentabilidade uma vez que
promove o sustento de uma família, o desenvolvimento econômico, apenas
reaproveitando e, não, explorando exaustivamente os recursos naturais.
A
loja conta ainda com um espaço muito agradável para que os clientes possam
fazer um lanche e tomar um delicioso suco de abacaxi gelado, consistente e
docílimo, embora não seja acrescido de açúcar, a não ser que o cliente peça, é
claro.
História
Dona
Maria Cícera Silva, proprietária, se emociona ao lembrar do início da loja, “A gente lavava a mão com água de um litro de
Coca que a gente trazia cedo junto com algumas peças e com as crianças sentadas num
carrinho de mão. Depois, levava tudo de volta pra casa à tardinha (...) Me diziam que eu tava doida, sonhando demais
quando eu falava que ia botar água encanada, energia...” Diz com os olhos
mais brilhantes que o de costume após declarar que está nesse negócio há mais
de doze anos.
Quando
questionada sobre as mudanças ocasionadas pela duplicação da BR 153, logo à
frente de sua loja e das outras barracas de abacaxi, dona Cícera demonstra
satisfação pois, apesar dos imensuráveis transtornos do início da obra, os
benefícios foram importantíssimos, como o calçamento, já que se sofria muito
com a poeira no período de estiagem e a lama no período chuvoso, e o
estacionamento próprio, melhorias que garantem maior comodidade aos
comerciantes das barracas de abacaxi e, principalmente, aos clientes,
fornecedores e visitantes.
Na
opinião de dona Cícera, por causa da distância, a rotatória mais próxima não
ficou muito bem localizada, mas o retorno, que foi feito à pedido dos
comerciantes, minimizou o problema. Afirma que a equipe do DNIT tem trabalhado de
forma muito transparente, apesar do imediatismo com que as coisas foram
acontecendo no início.
Um dos engenheiros responsáveis, Sr. Dalton
Ventura Costa, disponibilizou o projeto da duplicação da BR 153, o que permitiu
que dona Cícera e outras pessoas da comunidade entendessem melhor as mudanças e
tomassem as devidas providências. Uma delas, foi a fundação da ACAM, Associação
dos Comerciantes de Abacaxi de Miranorte, criada, inicialmente, para que os
comerciantes ganhassem tempo após terem sido oficialmente notificados que
teriam um prazo de quinze dias para se
retirarem da área na qual trabalhavam, muitos, há mais de duas décadas. A
iniciativa funcionou e os comerciantes conseguiram um prazo maior, seis meses,
para construírem novos pontos comerciais, dessa vez, com planejamento legal e
sem o risco de serem despejados por causa de outra obra federal, estadual ou
municipal.
Abacaxi e Artesanato Frutos da Terra é um espaço que vale à pena visitar. Difícil deve ser fazê-lo sem ficar na dúvida quanto aos artigos que pretendemos comprar, pois cada um é mais interessante que o outro.
É lamentável que muitos cidadãos de Miranorte ainda não conheçam a belíssima loja da dona Cícera e seu Percival, enquanto tantas pessoas, de diferentes pontos do estado e do restante do país e, mesmo, de turistas franceses, americanos e outros, considerem esse estabelecimento como um referencial de cultura e bom gosto localizado no interior do Tocantins.
Espera-se que políticas, mais eficientes que as já existentes, possam contribuir para a valorização e incentivo às produções e manifestações artísticas em Miranorte, pois, como diria William Shakespeare “A arte é o espelho e a crônica da sua época”.
É lamentável que muitos cidadãos de Miranorte ainda não conheçam a belíssima loja da dona Cícera e seu Percival, enquanto tantas pessoas, de diferentes pontos do estado e do restante do país e, mesmo, de turistas franceses, americanos e outros, considerem esse estabelecimento como um referencial de cultura e bom gosto localizado no interior do Tocantins.
Espera-se que políticas, mais eficientes que as já existentes, possam contribuir para a valorização e incentivo às produções e manifestações artísticas em Miranorte, pois, como diria William Shakespeare “A arte é o espelho e a crônica da sua época”.
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